quarta-feira, 6 de maio de 2009

Retórica


E nessa imensa vulnerabilidade do amar
Somos os homicidas e os vitimados
Somos quem determina o quanto amamos
E o quanto ainda se deve tentar

E nessa imersa vontade do tentar
Surgem os medos e as angustias a tomar rédeas
Nos fazendo, inexoravelmente, penar
É quando criamos barreiras, murros e regras

É quando tudo em que acreditamos
Tudo em que nós depositamos
Se esvai no vento

Nesta hora em que vagamos
Em que vemos o quão tolo fomos
Sofremos pela perda do tempo

Marccio Santos Poetastro

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Dia bonito


Bonita, vamos sair pra ver a lua
Mas isso só se o dia estiver bonito
Pois eu quero me perder por tua rua
E me achar na beleza de teu infinito

Eu quero estar no teu olhar pequeno
Ser aquela lágrima que não caiu, que não brotou
Talvez por defesa, talvez por engano
Ou por falta de tempo... ou falta de Amor

Vamos sair e ver e sentir o quão bonita é a vida
O quão belo se é e se pode ser
O quão de quantos "quãis" você querer
Vamos ser bobos pra não perder a rima

Um dia sem pressa de se viver
Onde iremos esculpir nosso amanhecer
Onde excessivamente grave é vida

E assim, sem medo, sem cautela, sem dever
Escreveremos no chão de nosso ser:
Um Bonito, uma Bonita

Marccio Santos Poetastro

terça-feira, 14 de abril de 2009

Força sempre


Força sempre é forçar sempre
Força forçada é uma faca afiada
Que te condena e te navalha
Deixando em tuas costas a punhalada

Força sempre é uma fossa a frente
Fossa grossa que fede e enoja
Que enche e empossa
Que nos enjoa e nos sufoca

Força sempre é desejo demente
É pedido sofrido e clemente
É o desespero mais profundo

Força sempre é a vontade latente
Que dissipa na lágrima poente
Do mais valente sentimento oriundo

Marccio Santos Poetastro

terça-feira, 31 de março de 2009

Olhos de poeta


Linda, linda, linda
Linda de meus olhos congelarem tua imagem
E projeta-la em minha mente, em meus sonhos
Afim que a beleza me afete e me tontei
A ponto de não se querer mais estar lúcido

Linda por tudo que se é e que se faz
Pois em toda obra, em todo gesto
Se respira e se transpira essa beleza serena
Que inspira e destrói;
Que é única, que é rara e exclusiva

Linda de obter brilho sem luz
Pois luz não se faz necessário
Quando num único sorriso habitam
tantos luares e tantos sóis

Linda nos olhos, nos traquejos, nos gracejos
Nas atitudes, pensamentos, sentimentos
Linda de causar devaneios sem fim
De se desesperar na hipótese de saudades

É por tamanha beleza que nasço diariamente
Vivo na esperança de captura-la e eterniza-la em meu peito
Nem que seja por breves séculos
Nem que seja apenas pra perfumar minha alma e me fazer poeta

Marccio Santos Poetastro

terça-feira, 17 de março de 2009

Mulher ou menina


Oh! Linda menina
Desprovida de maquiagem e enfeites
Daqui das sobras
Não se sabe se és mais menina ou mulher

Oh! Linda mulher
Cresceste e já maltratas coração
Daqui das sombras
Não se sabe se és mais mulher ou menina

Oh! Menina-mulher
Guardas tua inocência para o amor
Não se rendas a um qualquer:
Proteja-se da dor!

Oh! Mulher-menina
Que sempre continue em evolução
Aumenta tua beleza genuína
E espalhe nos olhares a ilusão

Marccio Santos Poetastro

quarta-feira, 4 de março de 2009

Soneto à Luciana


Nesse meu momento de penumbra
Anseio por um passado doce
A felicidade vivia comigo
Como se parte de mim fosse

Minha feição aos sorrisos
Minh’alma sempre a levitar
Ocultavam meus olhos sofridos
Por meu peito a palpitar

O céu era azul
Belo o infinito
Uma voz apaixonada

O azul cinza ficou
O coração sombrio
O amor-mortalha

Marccio Santos Poetastro

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Amando-a


Um dia eu quis amar uma mulher
E me entreguei e assim foi
Tantos sonhos, aventuras, desejos
Tudo muito pleno e muito breve

Depois de um tempo me arrisquei a amar novamente
E foi absurdamente instantâneo o querer
Mais sonhos, mais aventuras, mais desejos
Tudo muito pleno e mais breve ainda

Então me recolhi e decidir não amar mais ninguém
Mas eis que surge outra mulher
E pouco a pouco fui amando-a
Mas sem sonhos, nem aventuras e nem desejos

Dessa vez tudo foi muito mais pleno e sem pressa alguma
Fui amando-a apenas com amor e carinho
Daqueles raros, daqueles sinceros
Daqueles que não precisam de sonhos, aventuras e nem desejos

E desde então ela é minha irmã, minha mãe e minha filha
É a pessoa que mais me enxergou por dentro e menos se assustou
É a flor regada de lágrimas que surgiu do deserto do meu eu
É amor, onde sou amado e ela Amanda

Marccio Santos Poetastro

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Lascívia latente


O beijo não dado, o beijo negado, é ser invertebrado
Seca o copo, a boca e a alma
É a desilusão mais sem calma e menos sonora
É a boca quebrada e desejo rachado

Mas o desejo rachado não deixa de ter sua existência
Ele sossega ou aflita na calmaria da vontade e do não se ter
Porém com rédeas, com freios que antes inexistiam
E que agora dominam, tentam dominar esse ímpeto do se querer

O pulsar automaticamente é diminuído
Numa freqüência onde apenas lateja a saudade
Tudo aquilo que se quis agora sopram em brisas leves
Que refrescam, mas que nunca mais se tornarão tempestades

Marccio Santos Poetastro

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Quando o carnaval chegar


Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar

Chico Buarque

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

...


E essa chama que nasce do nada
Que desponta no coração por força do desejo
Esse querer que surge e ressurge a cada amanhecer
E se fortalece mais ainda ao cair da noite

Essa angustia pela poesia não vivida
Pelo abraço ainda verde
Pelo beijo ainda não selado
E pelo amor que se engatinha

Esse medo devorador de estar só
De se perder o que nunca se teve
Como se fora um engano do destino
Ou zombaria da predestinação

Essa torturante saudade amargando na boca
Somado a essa sequidão de saliva
Esse engolido seco e vazio
Por esse temor do não ter volta

Essa poesia que nasceu pra morrer
Que acredita que o amor reinará
Que deseja perdão e sentimento
E que nunca deveria ter sido escrita...

Marccio Santos Poetastro

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A flora e a cura


Uma grande flor
Dar ares de como tu és
Com o canteiro a teus pés
Não divisas o amor

Reservas teu pólen para insetos
De destinos incertos
Quando tão perto
Há um beija-flor

A essência que procuras
Não assiste em insetos
Eles não têm a tua ternura

Perceba o amor
Que paira no ar
Um beija-flor

Romero Maia

domingo, 4 de janeiro de 2009

Desatino


Ah, se as exceções fossem as regras
Se os medos fossem as certezas
Viveríamos tão plenos e tão certos
Que os erros nem seriam

Se a queda fosse macia
Tendo como acolchoado o aprendizado
O passo a frente seria mais firme
Assim como seria firme o olhar além da fronteira

Se estivéssemos sempre atentos
A desatenção seria apenas uma nuvem
Que surge e que se vai sem chover
E que não estraga um dia de sol

Talvez seja tola essa utopia, talvez vã
Mas pra ser real basta que se sonhe
Que se queira, que se dê e que se seja
Basta apenas que o coração se apaixone

Marccio Santos Poetastro